lntrodução: a govemabilidade do espaço sul-americano
como uma questão relevante na agenda bilateral
Projetada para o futuro, a agenda das relações bilaterais
entre a Argentina e o Brasil apresenta vários desafios. Neles incidem
as transformações estruturais políticas econômicas
e financeiras, observadas no contexto internacional, e que se tornaram
mais evidentes no início de 2008.
Um dos principais desafios é o que propõe a governabilidade
do espaço geográfico regional sul-americano. Privilegiaremos
a discussão deste desafio nesta análise. Por ele, entendemos
a necessidade de assegurar que nas relações entre os 12
países que formam este espaço predominem fatores que impulsionam
a cooperação ea integração, como contraposição
à preponderância da lógica do conflito e da fragméntação.
Assegurar a paz e a estabilidade no espaço sul-americano será,
nos próximos anos, lun dos objetivos que mais influenciará
a orientação e a intensidade da relação bilateral
entre à Argentina e o Brasil e as suas respectivas políticas
externas.
Neste sentido, é possível perceber que a qualidade e a
solidez das relações bilaterais entre ambos os países,
isto é, sua capacidade de articular - a despeito de süas diferenças
nahlrais - visõese políticas comuns, continua sendo uma
condição necessária para o desenvolvimento deum núcleo
duro que permita assegurar o predomínio da democracia, da paz e
da estabilidade política dentro da região.
Mas é necessário perceber que um enfoqüe realista
implica colocar a análise do futuro desta relação
bilateral na perspectiva do interesse nacional de cada um dos dois países
ante os desafios e oporhmidades que surgem de uma realidade internacional
marcada, precisamente, por mudanças estmturais profundas.
Com efeito, mudança, volatilidade e incerteza são palavras
que não podem faltar em qualquer análise do cenário
internacional atual. Tudo indica que terão ainda mais significado
no futuro. O mundo entrou em wna etapa na qual a expressão "areias
movediças" permite ilustrar as suas principais características.
Deslocamentos de poder relativo e de vantagens competitivas entre as
nações, às vezes muito rápidos, outras em
câmara lenta, quase gota a gota, tornam difícil predizer
o futuro. Hoje, mais do que mmca, detectar fatos qne tenham reflexo no
futuro, ter olho clínico para identificar forças profundas
e suas eventuais orientações, é uma condição
necessária para tentar de codificar a dinâmica das mudanças
internacionais. Exige do analista e do homem de ação wna
aptidão mental de atirador de alvos móveis, e não
da posição mais confortável de atirador de alvos
fixos. E exige das instihüções acadêmicas estar
em condições de formar quadros com este tipo de aptidão
mental e com a capacidade de perceber as novas realidades dentro da perspectiva
de diferentes tipos de atores: governamentais, empresários e da
sociedade civil.
Como conciliar as respectivas necessidades internas com as possibilidades
externas - na definição bastante acertada que faz o professor
Celso Lafer sobre a arte da política externa -é wn exercício
que requererá lima atenção privilegiada de ambos
os países. Uma agenda bilateral eficaz implica compartilhar em
todos os níveis, não só no governamental, os diagnósticos
sobre as margens de manobra que estão sendo abertas em todo o país,
tanto no sistema internacional global quanto no sistema regional. E implica
reconhecer que tais margens de manobra podem ser diferentes para cada
wn dos dois países.
Sendo assim, também é preciso definir a relevância
relativa de cada um dos dois países - que nem sempre será
parecida sob a. perspectiva dos protagonistas mais significativos dos
vários subsistemas internacionais nos quais o respectivo país
se inclui. E é uma relevância que também está
exposta a uma forte dinâmica de mudança, eventualmente com
efeitos diferentes em ambos os países.
Será uma tarefa que não tolerará nem voluntarismos
nem improvisações. São duas condições
que, se prevalecerem, diminuiriam as possibilidades de aproveitar de maneira
sustentável as enormes oportunidades que o novo cemirio mundial
criou para cada um dos países, particularmente na medida em que
conseguirem articular seus interesses com os de outros países,
da própria região oli do resto do mundo. Além disso,
potencializariam os custos de não saber administrar os desafios
que serão criados, com suas eventuais conseqüências
negativas para os respectivos interesses nacionais.
As reivindicações que serão criadas terão
um impacto significativo em três âmbitos, como conseqüência
de uma inserção internacional ativa de ambos os países
no mundo e na região. Referimonos, em particular, à necessidade
cada vez maior de entender a dinâmica internacional em hmção
de interesses nacionais bem definidos. Isto é, de colocar a informação
sobre os fatos e tendências na perspectiva da gestão da inteligência
competitiva de protagonistas relevantes - governo e empresas - com estratégias
e diretrizes em constante processo de atualização.
Tais âmbitos são:
- o governamental, com ênfase nos respectivos serviços
externos,. com sua valiosa rede de antenas disseminadas em vários
países e em pontos internacionais específicos- especialmente
Nova York, Washington, Viena, Roma, Genebra, Bruxelas e Montevidéu,
sede de alguns dos orgarlismos internacionais mais relevantes;
- o empresarial e. suas instituições, que se supõe
estar cada vez mais orientados para projetar internacionalmente a sua
capacidade de produzir bens e de prestar serviços que existem
ou se desenvolvem em cada um dos países;
- o das instituições acadêmicas, em sua tripla função
de capacitar quadros profissionais competentes, de contribuir para a
inovação e a geração de progresso técnica,
e de ajudar a entender o mapa de oporh.midades e desafios, resultado
da evolução contínua do cenário internacional.
São âmbitos complementares, pois competir e negociar globalmente
implicará, cada vez mais, um esforço sistemático
de sinergias entre várias protagonistas, públicos e privados.
Prajetar tais sinergias no plana bilateral e também cam autros
países da região permitirá patencializar e melhor
éÍproveitar as imensas possibilidades que estão sendo
constantementeabertas no cenário internacional. Algo indica a este
respeita a experiência dos países da União Européia
e, cada vez mais, a dos países da Asean (Associação
de Nações do Sudeste Asiático).
Os protagonistas antes mencianadas não são os únicos
relevantes. Só para mencianar alguns exemplos, cada país
deverá aproveitar em sua estratégia de inserção
internacional ativa todo a potencial que pade resultar da internacionalização
de seus meias de camunicação - por exemplo, a importância
de ter correspondentes internacionais prafissionais e qualificadas nas
principais centros de poder mundial. E a fato de que, por muitos motivos,
fai se deseu valvenda uma verdadeira "diáspora" formada
por milhares de cidadãas das nassos países que hoje vivem,
trabalham e estudam em diferentes países do mundo, sem contar com
outros milhares que viajam ocasionalmente, cama turistas au mochileiros.
Com relação ao tema que privilegiamos neste artigo, faremas
algumas reflexões nos próximos itens. No primeira, veremos
o que a experiência das últimas décadas indica sobre
a alcance da relação. bilateral entre a Argentina e o Brasil.
Na segunda, mencionaremos algumas das mudanças mais relevantes
abservadas no contexto. internacianal, enfatizanda as que mais incidem
na concorrência ecanômica global. No terceiro, examinaremos
tendências que estão influindo no espaço sulamericano
e introduziremos considerações sobre a questão da
liderança em um subsistema regional multipolar. No quarto, abordaremos
o tema da construcão institucional que permite assegurar a governabilidade
do espaço geográfico regional sul-americano. E, finalmente,
faremos algumas cansiderações sobre a futura agenda bilateral
entre a Argentina e a Brasil, colocada na perspectiva dos desafios que
apresenta a governabilidade do espaça sul-americano.
O alcance de uma relação· bilateral inevitável,
dinâmica e não excludente
Três traços caracterizam hoje em dia a relação
entre a Argentina e o Brasil. Eles não podem ser ignorados na farmulaçãa
das respectivas estratégias nacionais de ins·erção
no mundo e na região. E, menos ainda, na análise sobre o
Estado atual e as perspectivas da governabilidade do espaço geográfico
sul-americano.
O primeiro traço tem a ver com a caráter inevitável
da relação bilateral. Os dois países podem fazer
tudo, menos ignorarse reciprocamente. A relação com o outro
é um dado relevante de suas políticas externas. O que acontece
no âmbito interno de cada um dos países também pode
incidir sobre o outro. Isto advém de pelo menos três fatores.
São eles: a contigüidade geográfica - o fato de serem
vizinhos é um dado da realidade que não pode ser desconhecido
nem subestimado; a inserção em um mesmo subsistema político
internacional, foformado pelas nações que compartilham o
espaço geográfico sul-americano e a profundidade das interações
em vários âmbitos, não só no comercial; seria
difícil imaginar um retorno a uma relação pouco intensa
em suas diversas manifestações.
Somados, os três fatores levam ambos os países a ser, um
para o outro, parte de sua agenda de problemas e, eventualmente, parte
das suas soluções. Só com visões muito parciais
e limitadas de suas realidades podemos imaginar que um dos dois países
tenha deixado de ter relevância para o outro. Quando isso ocorre,
os fatos costumam tornar evidente essa relevância. É o que
normalmente fica claro no nível político mais alto. Isto
explica por que nas últimas décadas, nenhum presidente tenha
deixado de valorizar o alcance estratégico da relação
bilateral.
O segundo traço se refere à dinâmica dessa relação.
Não é nem poderia ser vista como algo estático, isto
é, com parâmetros e diretrizes definidos de uma vez por todas.
Por isto, sua abordagem precisa considerarfatores que estão continuamente
incidindo na sua qualidade e intensidade, nas assimetrias de poqer relativo
e, particularmente, nas percepções recíprocas soe
bre as relevâncias e lealdades.
Pelo menos três fatores incidem nesta dinâmica: a composição
e o resultado (saldos) do comércio recíproco e as tendências
dos investimentos produtivos (domésticos ou que têm origem
no outro país ou em terceiros países); a disputa por mercados,
recursos naturais e influências -políticas no espaço
sul-americano; e o protagonismo relativo nas relações com
as principais potências, particularmente com os Estados Unidos e,
no futuro, com a China, a Índia,e outras potências emergentes.
São fatores que transcendem orientações ideológicas
ou políticas que possam prevalecer em um determinado momento, em
qualquer dos dois países. Na teo.ria, a relação pode
ser mais intensa se existir, nas respectivas lideranças, visões
homogêneas sobre o mlmdo e as políticas públicas;
mas, na prática nem sempre é assim. Às vezes, a facilidade
com que os líderes se comunicam - e também a sua empatia
- tem mais importância na hora de definir a orientação
e a qualidade das relações recíprocas. Isto é
válido no caso dos respectivos presidentes, ou de outros protagonistas-chave,
como os responsáveis pelas políticas externas, econômicas
e industriais. Isto também vale para os demais atores do cenário
político, social e empresarial dos dois países. Nos últimos
anos, nem sempre a intensidade ou a qualidade de comunicação
entre as instituições empresariais, por exemplo, estiveram
de acordo com a valorização esh"atégica que
os governos atribuem à relação bilateral.
Entretanto, é no âmbito empresarial que estão sendo
colocadas em evidência as novas realidades que incidem nessa relação.
Entre elas, cabe destacar o fato de que aumentaram os investimentos de
empresas brasileiras na Argentina. Isto faz com que tais empresas possuam
cada vez mais interesses vinculados ao comportamento da economia argentina,
com seu lúvel de previsibilidade e segurança jurídica,
e com a qualidade do ambiente que predomina na relação bilateral.
Em menor grau, empresas que funcionam na Argentina têm uma presença
estável no mercado brasileiro, seja através do comércio
seja através de investimentos. Setores corno o automotivo e o de
alimentos são exemplos neste sentido. Todas elas são empresas
que deveriam ter grande interesse na qua. Iidade .e no aprohmdamento das
relações bilaterais.
Um terceiro traço se refere ao caráter nao exceludente
da relação estratégica bilateral. Ele é, em
grande parte, conseqüência das mudanças que estão
sendo feitas mundialmente. No mundo pós-Guerra Fria, todo país
tenta aproveitar o potencial de diversas opções para entrar
na disputa global pelo poder, pelos mercados, pelos investimentos e pelos
recursos naturais. De um.a forma ou de outra, os países desejam
desenvolver estratégias de alianças múltiplas que
ajudem a pôr em, prática tais opções simultane,arnente.
Além mesmo quando países se comprometem em um bloco regional
- como é o caso da União Européia - procuram conciliar
disciplinas e lealdades coletivas com a preservação da maior
margem de manobra internacional possível. Isto pode ser observado
atualmente na Asean e também no espaço sul-americano.
Nem a Argentina nem o Brasil podem imaginar. a sua aliança estratégica
como exclusiva ou excludente. O problema é que nem sempre isto
fica claro para os protagonistas ou analistas, nem foram desenvolvidas
disciplinas coletivas suficientes nos âmbitos de ação
conjlmta. Assim, às vezes surgem percepções do que
se consideram deslealdades, especialmente quando o que está em
jogo é a relação com a única potência
que ainda pode pretender uma liderança hegemônica na região,
isto é, os Estados Unidos.
Algumas mudanças mais relevantes no contexto internacional
A China, a Índia e outras economias emergentes, com seu protagonismo,
estão provocando mudanças profundas no cenário internacional,
especialmente no âmbito da concorrência econômica global
e no das negociações comerciais internacionais, apresentando
novos desafios e oportunidades. para os países da América
do Sul. Tais mudanças tornaram-se mais evidentes por ocasião
da crise financeira global que começou a manifestar-se no início
de 2008.
Neste sentido, observamos. tendências cujas raízes são
profundas e que foram se acentuando nos últimos anos, especialmente
a partir do fim da Guerra Fria e após os trágicos acontecimentos
de 11 de setembro de 2001.
Pelo menos quatro traços sobressaem no ahtal quadro da situação
mtmdial, incluindo tanto a suadirnensão política e de segurança,
como a econômica. São eles:
- o predomínio das questões globais de segurança
na agenda das principais potências, assim como uma incidência
cada vez maior das questões regionais de segurança na
agenda dos países latino-americanos;
- a constante ausência de limites entre as questões internas
e as externas nas agendas políticos e econômicas da maioria
dos países;
- a perplexidade dos cidadãos e, também, dos setores dirigentes,
diante da nova situação observada, tanto no que diz respeito
à segurança - incluindo a dificuldade de identificar o
inimigo como com relação à concorrência econômica
global - considerando os efeitos ambivalentes da globalização
e seu impacto sobre as identidades nacionais e sobre o deslocamento
das vantagens competitivas;
- o desgaste dos paradigmas dominantes em décadas anteriores,
tanto no que se refere à segurança internacional, quanto
no que diz respeito à concorrência econômica global
e a organização dos sistemas econômicos e sociais
nacionais.
Por seu lado, no âmbito da concorrência econômica global,
observamos pelo menos sete tendências que foram se acentuando nos
últimos anos e que, provavelmente, continuarão manifestando
seus efeitos no médio e longo prazos. São elas:
- o surgimento de novos protagonistas relevantes no âmbito da
concorrência econômica global e no das negociações
comerciais internacionais. Os casos mais notórios são
os da China e da .Índia. Mas também há os países
que atualmente fazem parte do G-20 e que têm forte influência
nas negociações agrícolas internacionais, assim.
como outros países - ou grupo de países como a Rússia,
os países do Sudeste Asiático, a África do Sul,
os países da Europa Central e os latino-americanos, como o Brasil,
o México, a Argentina e o Chile;
- a evidência de novos recursos de poder, nos quais se destacam
O acesso à informação em tempo real e, no campo
da segurança internacional, a miniahlrização de
almas de todo tipo - este último fator poderia incidir cada vez
mais no grau de previsibilidade que os fluxos de comércio e de
investimento necessitam;
- a proliferação de "clubes privados de comércio
internacional", que fazem diferentes tipos de acordos preferenciais,
todos eles implicando diferentes níveis de exceção
contra os prinópios fundamentais do sistema comercial multilateral
global, no âmbito da OMC e, particularmente, o princípio
da nãodiscriminação;
- a relativa capacidade da OMC de tornar exigíveis os compromissos
assumidos em seu âmbito, particularmente pela eficácia
do seu sistema de solução de controvérsias, que
propiciou o aparecimento da expressão: uma OMC "com dentes",
mas, por sua vez, as incertezas existentes com relação
ao futuro do sistema comercial multilateral global, em boa parte devido
às dificuldades que observam para concretizar os objetivos previstos
na Rodada de Doha e urna tendência incipiente ao não-cumprimento
dos pronunciamentos que surgem do sistema de solução de
controvérsias;
- o papel significativo das grandes redes transnacionais de inovação,
produção e comércio, em cujo interior se canaliza
uma parte significativa dos fluxos de bens e serviços, assim
corno a tendência cada vez maior ao surgimento de redes transnacionais
que têm sua origem em países em desenvolvimento;
- a incidência que as questões vinculadas aos alimentos,
à energia e ao meio ambiente têm na competição
econômica global;
- o fato de que os consumidores, especialmente os de maior renda em
todos os países, e não só nos mais desenvolvidos,
estão se tomando cada vez mais exigentes no que diz respeito
à qualidade dos produtos, especialmente no aspecto de higiene
é dos serviços.
E possível que os países sul-americanos - incluindo, é
lógico, a Argentina e o Brasil - possam capitalizar a seu favor
as vantagens abertas com o novo mapa da concorrência econômica
global, na medida em que consigam criar urna imagem baseada na realidade
de um espaço no qual predomine a paz, estabilidade políti.ca,
democracia, modernização tecnológica e a eqüidade
social. Ou seja, na medida em que este espaço geográfico
passe a ser percebido corno uma região governável.
Mudanças noespaço sul-americano e a questão da
liderança regional
A Arnérica do Sul é cada vez mais - corno foi no passado
- um subsistema internacional diferenciado, com urna lógica e dinâmica
próprias, determinadas por uma história compartilhada e
por uma geografia na qual as distâncias físicas e, sobretudo,
políticas e econômicas, foràm reduzidas. O fator energia,
entre outros, acentuou a dependência mútua entre os países
deste espaço regional, contribuindo para a sua diferenciação.
É fato que a região sul-americana vive momentos de profundas
mudanças. Isto é positivo, dadas as transformações
que estão acontecendo no sistema internacional, tanto no plano
da segurança quanto no da concorrência econômica global.
Como destacamos anteriormente, é um mlilldo de areias movediças,
no qual a lógica da violência está encoberta por
modalidades inéditas, difíceis de captar com paradigmas
do passado.
E também, como ressaltamos anteriormente, a competição
pelos mercados mundiais está se modificando devido à proliferação
de novos protagonistas, sejam eles grandes economias emergentes ou complexas
redes transnaciOhais de produção, comércio e financiamento.
Em um mundo em transformação, seria ilusório que
a região também não vivesse as suas próprias
transformações. Já aconteceu várias vezes
no passado.
Neste contexto, a agenda sul-americana aparece dominada por questões
de governabilidade interna de alguns dos países e de expectativas
insatisfeitas de sociedades mobilizadas, entre outros fatores, pelos efeitos
da globalização da produção e da informação.
Administrar a adaptação às novas realidades mundiais
com seus conseqüentes impactos internos é, então, um
grande desafio que hoje vivem os países sul-americanos e, também,
os países de outras regiões. É um desafio-chave para
decodificar a relação estratégica entre a Argentina
e o Brasil.
Como interpretar uma vizinhança geográfica com uma interdependência
cada vez maior, em um espaço no qual predomina a lógica
da integração sobre a do conflito e, eventualmente, da violência,
parece ser uma questão que requer uma liderança regional
efetiva. A construção de uma área regional de qualidade,
favorável à paz, ao desenvolvimento e à coesão
social é o que importa para as pessoas e, particularmente, para
os que tomam decisões de investimento produtivo, que é o
que cria empregos e contribui para enfrentar os dilemas que a globalização
apresenta.
Nos últimos anos, acentuou-se o caráter multipolar da inserção
econômica internacional dos países sul-americanos, especialmente
os do Mercosul, Chile e de alguns países andinos. Tal caráter
se reflete na estruhua de seu comércio exterior e dos fluxos de
investimento estrangeiro direto, o que demonstra uma inserção
externa diversificàda em suas origens e destinos, com a União
Européia, a própria América Latina, os Estados Unidos
e cada vez mais com a Ásia.
A este respeito, parece conveniente distinguir o espaço sul-americano
do latinoamericano, que também engloba o México, a América
Central e os países do Caribe. A América do Sul é
então, cada vez mais como foi no passado - um subsistem a internacional
diferenciado, com uma lógica e dinâmica próprias,
determinadas por uma história compartilhada e por uma geografia
na qual as distâncias foram reduzidas.
Qual país tem mais possibilidades de exercer uma liderança
no espaço geográfico latino-americano? É uma pergunta
que está presente em muitas análises so~ bre a política
e a economia da região. É recorrente nos últimos
anos, como conseqüência do protagonismo ativo do presidente
Chávez. Costuma ser uma pergunta que inclui, também, a análise
das relações bilaterais entre a Argentina e o Brasil.
Responder a pergunta de quem exerce esta liderança ou pode exercê-la
implica precisar o que significa liderar unia região. É
preciso distinguir três conceitos. [1] Em primeiro lugar, o conceito
de relevância, que tem relação com o grau de gravitação
(poder, recursos, mercado, influência, prestígio) que um
país pode ter para defuúr a forma como são encaradas
questões importantes vinculadas à agenda regional. Não
apenas isso deve ser considerado, como seria muito difícil articular
soluções sem a sua participação. Por sua vez,
o conceito de protagemlsmo, que significa que um país, especialmente
se é relevante, procura ter uma presença ativa cómo
ator de questões importantes vinculadas à agenda regional.
Também não pode deixar de ser considerado no momento de
enfrentar uma questão concreta. Entretanto, às vezes pode
ser uma presença ativa mais na mídia do que real, destinada
também a aumentar a sua relevância. Também pode acontecer
que um país relevante não deseje ter um protagonismo ativo.
E,em terceiro lugar, o conceito de liderança, que implica um país
optar por ser um protagonista ativo, qualquer que seja a sua relevância,
e contribuir para tais questões com uma visão estratégica
e iniciativas aceitáveis para os outros países envolvidos.
A liderança no espaço geográfico regional sul-americano
consistiria, nesta perspectiva, em contribuir com visão estratégica
e iniciativas razoáveis para concretizar um espaço regional
no qual caibam as diversidades, graças ao predomínio da
idéia de mn trabalho conjunto com relação à
agenda de questões mais importantes. A liderança, então,
se manifestará na capacidade de um país que é um
protagonista relevante - mesmo os menores podem ser relevantes, como demonstraram
os de Benelux no caminho que conduziu ao Tratado de Roma - de contribuir
para a articulação de interesses nacionais divergentes entre
todos os países envolvidos. E de facilitar, assim, o controle de
focos potenciais de dificuldades, como os que surgiriam se não
for possível em um país, especialmente se for mn protagonista
relevante, alcançar pautas estáveis de governabilidade democrática.
Dado o caráter multipolar do espaço geográfico regional
sul-americano, a liderança é mna tarefa que requer o protagonismo
ativo de vários países relevantes, não de um só.
Por sua dimensão relativa, o Brasil pode ter uma maior responsabilidade
e potencial para influir sobre as realidades. Mas, para isto, terá
que acordar iniciativas com outros protagonistas relevantes com vocação
de liderança, como a Argentina, o Chile; a Colombia o Peru e, inclusive,
a Venezuela, especial. mente devido à sua relevância. como
produtor de hidrocarbonetos e por seu protagonismo ativo, ainda que muitas
vezes com mna tendência a estar mais na mídia do que a ter
um protagonismo real. Também terá que considerar a gravitação
dos Estados Unidos na região, como também a de países
da União Européia e, cada vez mais, da China. Em muitas
questões importantes da agenda regional, foram ou são, hoje
em dia, protagonistas relevantes. No complexo mosaico sulamericano, são
muitos os protagonistas relevantes com vocação de liderança
e muitas as opções em termos de coalizões de níveis
variáveis que dependerão do tipo de questão a ser
abordada.
Sendo assim, uma questão, central nas futuras relações
entre a Argentina e o Brasil passa por responder na prática a pergunta
sobre o papel que podem exercer - o ideal seria, trabalhando juntos, objetivar
mna liderança coletiva - para o desenvolvimento das condições
de governabilidade no espaço sul-americano, assim como na construção
de bens públicos regionais que contribuam para o predomínio
da lógica de integração e neutralizem tendências
criadas por forças centrífugas cada vez mais evidentes.
O mais provável é que o farão exercendo também
as suas próprias alianças múltiplas e variáveis,
tanto no âmbito regional como no global.
A institucionalização de um espaço regional no
qual predomine a lógica da integração
Nos últimos anos, podemos observar duas tendências nas relações
externas das nações que fazem parte de subsistemas internacionais
como o sul-americano.
Dentro deste contexto existem tendências orientadas a institucionalizar
o espaço sul-americano. Uma dessas tendências é a
da diplomacia presidencial, entendida como a interação direta,
com a presença física, ou por outros meios, dos chefes de
Estado e de Governo das nações soberanas. Expressa-se especialmente
na proliferação, em todas as regiões, das reunIões
de cúpula presidencial de alcance multilateral. Manifestaram-se
de forma muito ativa nas últimas décadas, sem desconsiderar
certa tradição histórica.
A outra é a tendência à diplomacia multiespacial.
Reflete cada vez mais uma diversificação dos espaços
geográficos nos quais os países que competem em âmbito
global ou regional desenvolvem estratégias de inserção
internacional. No mundo do século XXI, seria difícil um
país limitar as suas relações externas só
com as principais potências ou com as de um contexto próximo.
Pelo contrário, é natural que se tente aproveitar todas
as oportunidades que na área do comércio e dos i:nvestimentos
possam existir em qualquer país do mlmdo, em boa parte graças
ao colapso de compartimentos estanques que foram próprios do período
da Guerra Fria e, particularmente, graças ao colapso das distâncias
físicas, econômicas e culturais.
Privilegiaremos aqui a análise do fenômeno da diplomacia
presidencial multilateral e multiespacial na perspectiva do subsistema
internacional formado pelo espaço geográfico sul-americano.
Como todo fenômeno internacional, o da diplomacia multilateral
e multiespacial pode ser abordado sob diferentes ângulos. Aqui,
daremos ênfase à sua relativa relevância e eficácia,
em função do objetivo estratégico de assegurar a
governabilidade do espaço sul-americano por um lado e, por outro,
alcançar objetivos de cada país para melhorar a qualidade
de sua inserção econômica internacional e melhor defender
os seus respectivos interesses nacionais, especialmente no que se refere
a sua real participação no sistema internacional global.
Neste sentido, uma das principais perguntas que devemos tentar responder
- ou pelo menos fornecerelementos para uma eventual resposta - é
saber se se trata somente de um fenômeno que faz parte do plano
da participação formal ou simbólica no sistema internacional
com suas eventuais vantagens de curto prazo em termos de diplomacia para
a mídia ou diplomacia de efeitos especiais, ou de políticas
de prestígio com efeitos favoráveis internos e externos
ou se, pelo contrário, trata-se de uma modalidade efetiva de participação
real, orientada a melhorar a posição relativa de cada país
- ou de um grupo de países, como poderia ser o caso do Mercosul
ou da Comlmidade Andina de Nações -, nos mapas do poder
mlmchal, da concorrência econômica global e das negociações
comerciais internacionais.
Por melhorar a posição relativa no sistema internacional,
entende-se os efeitos de ampliação da margem de manobra
com o qual uma nação conta para desenvolver políticas
externas funcionais aos seus requerimentos internos. Indicadores concretos
a este respeito são os compromissos exigíveis a ser obtidos
pelos países que participam destes fóruns presidenciais
multilaterais sobre questões relevantes de suas respectivas agendas
externas e as que tenham relação com a integração
econômica e a estabilidade política no respectivo espaço
regional. Eles devem ser objetos de at.enção na hora de
fazer avaliações sobre a relevância e a eficácia
de cada- fórum nos quais os países sul-americanos participam.
Outra pergunta que deveria ser feita e cuja resposta exigiria mais evidência
empírica da que podemos dispor neste momento, é sobre se
a tendência à diplomacia presidencial multilateral e multiespacial
dos países sul-americanos implica alguma contribuição
para o fortalecimento dos esforços de integração
profunda entre grupos de países - novamente vemos os casos do Mercosul
e da Comtmidade Andina de Nações - ou se, pelo contrário,
pode diluir tais esforços.
Dentro da perspectiva antes descrita, é interessante abordar a
questão da institucionalização do espaço geográfico
regional sul-americano. Atualmente, ela está vinculada à
iniciativa de criár uma Comunidade Sul-Americana de Nações
e que agora foi denominada União de Nações Sul-Americanas
(Unasul), após uma reunião de cúpula energética
sul-americana, realizada nos dias 16 e 17 de abril de 2007, na ilha Margarita,
na Venezuela. Esta Comtmidade foi visualizada como uma forma de colaborar
para a criação de bens públicos regionais que contribuam
para a governabilidade da região. É uma contribuição
cuja evolução futura ainda está marcada por incertezas.
A idéia de uma Comunidade Sul- Americana de Nações
reconhece como um primeiro passo a Reunião de Cúpula SulAmericana
de Brasília, realizada no ano 2000 pelo governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Foi baseada em iniciativas adota das anos antes pelo
Itamaraty. Dela participam os 12 países do
espaço geográfico regional sul-americano. A sua proposta
original, na reunião de cúpula de Brasília, estava
fortemente vinculada ao desenvolvimento da infra-estrutura física
da região. Logo, foram sendo explicitados outros objetivos no campo
político, da integração energética e da convergência
dos díferentesesquemas sub regionais de integração;
realizados por países sul-americanos no âmbito mais amplo
da Associação Latino-Americana de Intepração
(Aladi).
E um espaço geográfico com 361 milhões de habitantes,
um produto bruto de mais de um trilhão de dólares, com exportações
da ordem de 200 bilhões de dólares, com 25% da água
doce do planeta, 8 milhões de quilômetros quadrados de bosques
e uma enorme capacidade atual e potencial de produção de
alimentos, hidrocarbonetos, bíocombustíveis e recursos minerais.
São dados que explicam o interesse que algumas economias emergentes
como a China, a Índia e a África do Sul, entre outras, estão
demonstrando pela região.
Esta Comunidade - e a diplomacia presidencial multilateral através
da qual se procura a sua instihlcionalização - terá
sentido se conseguir refletir diferentes realidades e se gerar impulsos
políticos de alto nível em hmção de diretrizes
com objetivos concretos. É possível considerar que o espaço
sul-americano reúna a primeira dessas condições-
Demonstrar que pode cumprir a segunda condição é
o desafio que ainda não foi possível responder com a idéia
da Comunidade Sul-Americana ou Unasul.
Nem sempre isto se concretiza em um espaço geográfico regional.
O espaço europeu só consegtúu nos últimos
cinqüenta anos, especialmente após as sucessivas ampliações
do que hoje é a União Européia. Não conseguira
antes e ficou exposto a todas as conseqüências do predomínio
da lógica da fragmentação e do conflito e, em última
instância, da guerra. No espaço do Sudeste Asiático,
é o objetivo que está sendo perseguido com a idéIa
da criação da Asean, que deveria ser aperfeiçoada
até o ano 2015, conforme o que ficou acordado na última
Reunião de Cúpula da região realizada em Cingapura,
em novembro de 2007.
Sendo assim, é um fato que as Reuniões de Cúpula
Presidencial instalaramse privilegiando a diplomacia multilateral, inclusive
na América do Sul Mas sem desconsiderar o fato de proporcionarem
um espaço útil para o conhecimento e para o diálogo
entre os participantes, é certo que apresentam algum desgaste como
me~ canismo eficaz de construção de espaços de cooperação
entre as nações. Denominase "cumbritis" - o que
seria uma espécie de mal que afeta os protagonistas da intensa
diplomacia presidencial multilateral que, às vezes, pode explicar
ausências significativas. Mas, também, poderia estar afetando
os cidadãos que não percebem a sua eficiência. Isto
faz, elas perderem o seu potencial de divulgação. Muitas
vezes são qualificadas como "históricas" por quem
as impulsiona e, às vezes, é difícil imaginar seu
iiripacto real na construção de um espaço de cooperação
bi-regional.
Entretanto, se bem preparada, uma Reunião de Cúpula Presidencial
Sul-americana pode produzir resultados.úteis. No futuro, deveremos
avaliar suas eventuais contribuições efetivas em três
planos. Neles ficará evidente. a sua capacidàde de gerar
impulsos políticos de alto nível para questões relevantes,
resultado do fato de seus participantes pertencerem a um espaço
geográfico que é comum e também inevitável.
O primeiro plano é o do desenvolvimento de condições
que facilitem a estabilidade política em uma região diferenciada
e multipolar. Diferenciada no que diz respeito aos graus de desenvolvimento
econômico dos países que a formam. Mas também no que
se refére às visões sobre a inserção
no mtmdo e os caminhos que conduzem à afirmação de
sistemas democráticos baseados na coesão social. Multipolar,
pelas respectivas capacidades e vocações de exercer uma
liderança regional. Como já foi destacado, nenhuma nação
tem as condições necessárias para uma liderança
hegemônica na região sul-ameri.cana. A construção
de um espaço comum no qual caibam as diversidades é uma
tarefa coletiva que requer mais vocação de concertação
de interesses do que de conhontação, seja de ideologias
ou de personalidades.
O segundo plano é o das questões econômicas da agenda
regional. Três são prioritárias. Uma é a da
integração física; implica criar impulsos políticos
necessários para o desenvolvimento de projetos de infra-estrutura
que aproflmdem a conexão entre as economias nacionais. A outra
é a da energia. Assim como no espaço europeu, criar bases
institucionais com regns efetivas que estimulem os investimentos e garantam
os abastecimentos transhonteiriços comprometidos é, hoje,
uma questão de impacto na segurança dos países e,
portanto, fundamental para a estabilidade política de uma região.
E a terceira, é a da convergência dos múltiplos acordos
comerciais preferenciais que existem na América do Sul, todos eles
realizados no âmbito mais amplo da Aladi.
O terceiro plano é o já mencionado da institucionalização
da agora denominada Unasul. Esta instihlcionalização ainda
não é resultado de um lratado. Bom que seja assim. Seria
positivo evitar a tentação de avançar em criações
institucionais complexas, úteis para a mídia, mas pobres
em resultados práticos. O Grupo dos 8, por exemplo, exerce sua
influência sem que as nações mais poderosas o tenham
formalizado em um tratado. Pelo contrário, o importante é
conseguir que as Reuniões de Cúpula periódicas sejam
um fator de impulso político para as ações multimodais
que podem ser concretizadas ou, por exemplo, com instrumentos ad-hoc -
o que poderia ser, no âmbito energético, o equivalente ao
Tratado da Carta da Energia, criado na Europa - ou com o aproveitamento
de vários acordos já existentes, corno o Mercosul e a Comunidade
Andina de Nações, incluindo seus respectivos instrumentos
e regras de jogo.
Entretanto, a idéia da Comunidade Sul-americana de Nações
(ou Unasul) apresenta um risco importante, não devemos subestimá-lo.
Também poderia representar uma tentação: terminar
diluindo os compromissos exigíveis já assumidos no Mercosul,
que continua sendo, apesar de suas dificuldades, o principal núcleo
duro para a articulação de um espaço geográfico
regional que resista a tendências para a fragmentação
e o conflito.
O futuro da relação estratégica bilateral
A qualidade da relação estratégica bilateral entre
a Argentina e o Brasil se expressa em três lúveis: construção
de um Mercosul eficaz e crível, sua articulação com
o desenvolvimento de um espaço geográfico regional sul-americano
no qual prevaleça a lógica da integração e
a inserção eficaz dos respectivos países e da região
sul-americana na disputa global pelo poder, pelos mercados, investimentos
e recursos nahlrais.
A transformação do Mercosul é, talvez, mais prioritário,
condiciona, em boa parte, os outros dois aspectos. Sob a iniciativa dos
presidentes Alfonsín e Sarney nos anos 1980, a idéia de
uma associação estratégica entre os dois países
se transformou no ponto central de suas respectivas políticas externas;
logo foi institucionalizada no Mercosul, após a assinatura do Tratado
de Assunção, em 1991. Mais de 15 anos depois, percebe-se
claramente nos dois países sócios deste empreendimento sub-regional,
a necessidade de proceder ao seu aggiornamiento. A idéia de colapso
do Mercosul não é valorizada por nenhum dos respectivos
governos, mas parece inegável que são necessárias
iniciativas concretas que permitam, através de metodologias flexíveis
e de uma geometria variável, aumentar a eficiência, precisar
a sua identidade e renovar a sua legitimidade social. A entrada da Venezuela
aumenta ainda mais a importância de trabalhar estas frentes. Um
fracasso do Mercosul ou seu desvio cada vez maior para a irrelevância
poderia ter efeitos - negativos na qualidade das relações
entre os seus sócios, especialmente entre a Argentina e o Brasil
que, por sua dimensão, devem desempenhar um papel-chave no seu
desenvolvimento.
Mas o Mercosul só é parte de um mosaico institucional maior,
que abrange a totalidade do espaço geográfico regional sul-americano.
É aqui onde tem a maior importância, por um lado a articulação
do Mercosul com o Chile e com a Comunidade Andina de Nações
e, por outro, o desenvolvimento da idéia de uma Comunidade Sul-Americana
de Nações (Unasul), cujos pontos principais tendem a ser
- pelo menos em uma primeira etapa - a integração física
e a energia, incluindo o desenvolvimento de fontes alternativas baseadas,
por exemplo, no desenvolvimento nuclear e nos biocombustíveis.
Na medida em que se consiga articular as relações bilaterais
entre a Argentina e o Brasil em tomo de um Mercosul concebido como um
conjunto mínimo de disciplinas e regras de jogo, elas poderão
ser um eficaz núcleo duro de governabilidade do espaço sul-americano.
Então, será factível que o desenvolvimento, por parte
de ambos os países, de inserção ativa no espaço
global não se traduza na geração de fatores que criem
tensões recíprocas.
A profundidade de tais relações que são, poi sua
vez, inevitáveis, dinâmicas e não-excludentes, requer,
portanto, construções institucionais que respondam a critérios
de previsibilidade no comportamento dos sócios e de flexibilidade
nos instrumentos a ser utilizados. Este aspecto apresenta, talvez, um
dos principais desafios futuros para as diplomacias de ambos os países.
Tradução Miriam Xavier
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