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  Félix Peña

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 Diario Valor Económico | 11 de junio de 2002

Mercosul deveria iniciar já a preparação para fase pós-acordos comerciais


Inserir na agenda do Mercosul e nas agendas nacionais de seus integrantes a questão dos cenários "pós-negociações comerciais internacionais", como sugeriu o ministro Sergio Amaral, significa responder a pelo menos duas perguntas: em primeiro lugar, como vamos nos preparar para competir com nossos produtos e serviços nos espaços econômicos ampliados que resultarão das negociações comerciais internacionais?

Em segundo, como nos prepararmos para assimilar, em políticas públicas, estratégias e comportamentos empresariais, as novas diretrizes coletivas que resultarão dessas negociações?

Tais perguntas são válidas se considerarmos que, a partir do fim do ano - depois das eleições nos EUA, França e Alemanha, e no Brasil - as negociações na OMC, na Alca e no "4+1", e com a União Européia, podem entrar numa fase decisiva que se estenderá até 2004.

É evidente que também é possível que as negociações fracassem e que o ambiente externo que envolve os parceiros no Mercosul não mude significativamente, ao menos em termos de acesso a mercados e de regras de jogo que se refletem na competição econômica.

É, inclusive, possível (embora difícil saber se provável, tendo em vista a incerteza e volatilidade internacionais) que o ambiente externo se torne mais negativo e se acentuem as tendências protecionistas decorrentes do efeito combinado de uma maior instabilidade política internacional (cenário "pós-11 de setembro") e de uma forte recessão na economia mundial. Mas seria um erro que, por prevermos somente o pior, perdêssemos as oportunidades que resultariam de cenários mais factíveis.

Preparar os cenários "pós-negociações" implica realizar, paralelamente, o esforço de participação em complexas negociações - simultâneas e vinculadas entre si, tanto nas agendas como em cronogramas e dinâmicas - e o da preparação do Mercosul e de cada um de seus parceiros para competir em todos os mercados e para adequação a disciplinas coletivas cada vez mais exigentes. É ainda preciso estabelecer o que é viável fazer, em termos de políticas públicas, sem correr o risco de exposição a caras represálias comerciais.

Imaginar hoje os cenários "pós-negociações" deve ser, portanto, uma prioridade para os países do Mercosul. Isso nos deveria levar não apenas a um esforço de reflexão coletiva nacional e conjunta como também a tirar conclusões para futuras políticas públicas e estratégias empresariais. Um esforço do qual venham a participar ativamente os cidadãos e suas principais instituições - políticas, empresariais, sindicais, acadêmicas e o mundo cada vez amplo das organizações não governamentais -, num cenário de maior fluidez e transparência de informações.

Recentemente, em Praga, participei de fórum no qual pudemos apreciar o esforço que está sendo feito pelos países do chamado grupo Visegrad (República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Polônia) para deixar suas instituições, economias e empresas em condições de serem membros plenos da União Européia a partir de 2004.

Enquanto negociam a incorporação à UE, orientam políticas públicas e estratégias empresariais para se prepararem para o difícil e atraente cenário pós-negociações.

As motivações para isso são, em grande parte, os resultados esperados e seus efeitos sobre algo valioso para seus cidadãos: democracia e bem-estar. Mas há também o estímulo de uma efetiva cooperação européia, extremamente significativa em termos financeiros.

Examinar bem a experiência atual dos países do grupo Visegrad seria, portanto, de grande valia para os países do Mercosul. Evidentemente, ela está sendo facilitada por uma ajuda financeira que não se materializou - pelo menos até agora -, no âmbito das negociações com os EUA - na Alca e no "4+1" -, ou com a própria UE.

Talvez tenha chegado a hora de introduzir explicitamente em ambas as negociações a necessidade de financiamento adicional que contribua para as necessárias mudanças estruturais e para o desenvolvimento de novas disciplinas macroeconômicas, setoriais e comerciais. Com relação à UE, essa oportunidade poderá ser a próxima reunião de ministros do Exterior dos dois blocos, em Brasília, resultante da recente Cúpula de Madri.

Introduzir no Mercosul a questão de como nos prepararmos para os cenários "pós-negociações comerciais" poderá ter ao menos um efeito colateral positivo: o de facilitar a articulação de um debate aprofundado e racional, entre os parceiros no Mercosul, sobre que tipo de processo de integração - ou seja, mecanismos de decisão, regras de jogo e políticas públicas - seria funcional no contexto dos possíveis cenários pós-negociações, e que tipo de estratégias empresariais conjuntas seriam necessárias para competirmos nos mercados ampliados resultantes.

Esse debate ajudaria, inclusive, a superar os atuais problemas conjunturais do Mercosul, projetando uma ação conjunta rumo a objetivos estratégicos concretos de médio e longo prazos.


Félix Peña es Director del Instituto de Comercio Internacional de la Fundación ICBC; Director de la Maestría en Relaciones Comerciales Internacionales de la Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF); Miembro del Comité Ejecutivo del Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales (CARI). Miembro del Brains Trust del Evian Group. Ampliar trayectoria.

http://www.felixpena.com.ar | info@felixpena.com.ar


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